De Olho na Copa de 2014 Pelos Direitos DCA



Pagina destinada a informa a Sociedade Cível a cerca das ações promovidas pelos projetos parceiros KNHBrasil, no enfrentamento da garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes durante a Copa do Mundo de 2014.  






NA COPA, O BRASIL VAI OFERECER O QUE TEM DE MELHOR: SUAS CRIANÇAS 



Créditos: Leonardo Sakamoto 
Um amigo me ligou para desabafar. Uma menina da idade de sua filha pequena, maquiada como gente grande, havia lhe oferecido um programa na noite anterior, em uma cidade qualquer do interior do país. Aquilo lhe embrulhou o estômago. Como, segundo ele, vejo essas desgraças todos os dias, queria saber como aguento.
E quem disse que aguento? Ganhar casca grossa de proteção diante de tragédia não significa ficar insensível a ela. Ver meninas, que deveriam estar estudando fórmula de báskara para a prova, alugar seus corpos para sobreviver ou para garantir o faz-me-rir de alguém dá um misto de raiva e sensação de impotência.
É muito triste ver uns tiquinhos de gente entrando em boleias de caminhões, na madrugada de estradas, por alguns trocados, como cansei de ver. Ou as “putas com idade de vaca velha”, ou seja, 12 anos, em bordeis da Amazônia.
Exploração sexual de crianças e adolescentes não é novidade no Brasil. E nem é vinculada apenas a uma classe social: há denúncias de políticos e empresários que alugam barcos e hotéis para consumir as crianças que compraram ou aqueles que fazem o serviço em seus luxuosos escritórios ou em casas alugadas coletivamente com amigos em bairros chiques. Isso sem contar os milhões de acessos a vídeos e fotos de pornografia infantil envolvendo crianças brasileiras que fazem sucesso em nobres computadores e tablets.
Muita gente fica indignada quando, em palestras e debates, digo que, para além da pedofilia (que é doença e pode ser tratada), há no país um exército anônimo – alimentado pelo nosso machismo – defendendo que se alguém tem “peito e bunda”,  já está maduro o suficiente para prestar serviços sexuais.
Neste ano, a Repórter Brasil lançou um relatório sobre a erradicação das piores formas de trabalho infantil no país (exploração sexual, trabalho rural, trabalho doméstico e trabalho infantil urbano informal e ilícito). Nele, avaliou-se que o país não deve conseguir cumprir sua meta de acabar com essas situações em três anos, como prometido.
De acordo com o relatório, nos últimos 20 anos, as ações de enfrentamento avançaram, com sensibilização da sociedade, multiplicação das políticas públicas e participação do setor empresarial. De 2004 a 2010, o número de programas federais para a área saltou de três para 13, o que refletiu no aumento das denúncias.
O fator cultural tem um peso importante no combate à exploração sexual. Além de medidas para dar conta da vulnerabilidade social das vítimas, também é preciso criar políticas que levem em consideração a cultura do já citado machismo, além de racismo, homofobia e outros preconceitos que dificultam a atenção às vítimas.
Entidades ligadas à rede de enfrentamento ao problema alertaram para a intensificação desse tipo de violação nas regiões onde estão sendo construídas as grandes obras de infraestrutura e para os megaeventos. Por exemplo, em fevereiro deste ano, a Polícia Civil de Altamira, no Pará, encontrou 14 mulheres e uma travestiem regime de escravidão e cárcere privado em um prostíbulo frequentado pelos trabalhadores dos canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte. Entre elas, uma adolescente de 16 anos que conseguiu fugir e denunciou a situação.
Um dia um fazendeiro português com terras no Mato Grosso disse a Pedro Casaldáliga, símbolo da luta pelos direitos do campo no Brasil, para justificar a exploração: “Dom Pedro, o senhor é europeu, o senhor sabe. As calçadas de Roma foram feitas por escravos. O progresso tem seu preço”. E que preço salgado temos pagado pelo progresso de alguns. A fatura inclui a inocência de nossas crianças, perdida antes do tempo, no escuro do asfalto, de bordeis, de casas chiques acima de qualquer suspeita.
A hora é boa para discutir o tema. Avançamos, mas falta muito para coibir o turismo sexual de nacionais e estrangeiros.
Pois, além dos sorrisos, esse povo festeiro, lindo e mágico, que comemora cada gol com a mesma alegria com a qual recebe os visitantes deste país incrível que Deus escolheu para abençoar e acolhe com amor e carinho todos aqueles que desejam se juntar ao maior espetáculo da Terra, não vai poupar esforços para oferecer aos que vêm de fora o que temos de melhor.

Nossas crianças.

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